3 Motivos para ler (e amar) Khaled Hosseini [Blogagem Coletiva #1]


Boa tarde aos navegantes! Aqui vai o primeiro post de uma blogagem coletiva com gente super especial. A nossa intenção é indicar escritoras e escritores bacanas mensalmente, sempre tentando persuadir vocês da melhor maneira possível de que a pessoa em questão é puro amor e não estamos loucas. O escritor que escolhi para hoje é Khaled Hosseini, autor de O Caçador de Pipas, A Cidade do Sol, e O Silêncio das Montanhas.

  • Delas: Celly escreveu sobre Joseph Delaney, Cris sobre Neil Gaiman, Samy sobre Lemony Snicket, e Camila sobre o nunca-fora-de-moda Tolkien. 


1- Direto do Departamento de Milagres: NÃO são histórias ocidentais e muito menos a caveira do Islã

Tudo que ouvimos aqui no lado oeste da Bruxa Verde sobre o Afeganistão se resume em: talibãs, talibãs, e mais talibãs. Um tiquinho de "terrorismo", uma pitada de guerra, um tanto mais de "palco de conflitos Índia-Paquistão", radicais islâmicos e voilà: pintamos a cara de uma nação inteira. E ainda não teve internet suficiente que mudasse aos nossos olhos esse quadro malfeito.

Chimamanda Adichie já nos contou os perigos de uma história da qual só sabemos um lado, e isso acontece diariamente, sem que a gente possa perceber. Registramos em nossas mentes pobreza para África, extremismo para Ásia (só a parte muçulmana, afinal... adoramos sushi!), não sabemos nem o que é e para que serve a Oceania, e sonhamos com o mundo mágico e civilizado da Europa/ América do Norte — mas claro que o México não conta, já que lá é um formigueiro de gente comendo qualquer coisa encharcada de pimenta enquanto tenta passar ilegalmente pela fronteira dos EUA. Duro, rude? Estúpido e mesquinho? Não tenha a menor dúvida. Exatamente por isso é importante valorizar autores que trazem a essência verdadeira de seu país, com todas as facetas que ele possui. Dessa maneira, a neblina de ignorância se dissipa, e fica fácil perceber que nós humanos não somos tão diferentes assim.

É a primeira vez que alguém fala e é ouvido por tanta gente sobre o Afeganistão, e não sobre algum contexto de problemas que o envolva. É hora de descobrir a cultura, e Khaled é puro amor: conta histórias de afegãos incríveis, pessoas complexas, cheias de vida, assim como eu e você. 


2- Ele também é médico, e sabe da dor que assola nossas pequenas existências

E não tô falando só da física, não. O Caçador de Pipas (The Kite Runner) arrancou-me algumas boas lágrimas, verdade seja dita. Os livros de Khaled são cheios de sentimento, cheios de humanidade. São personagens fortes, que cometem vários deslizes e assistem o passado surgindo para cobrar suas multas pelo enterro dissimulado. A relação de Amir e Hassan é inegavelmente bela, mas falha. Hassan é um criado hazara (etnia bem discriminada pelos pashtuns, que são maioria afegã) que fez de seu amo, amigo. Ele assume vários riscos por Amir, e sempre o perdoa. Porém, Amir, mesmo com toda essa ligação e amor por Hassan, é muitas vezes orgulhoso, frio, ressentido, e até cruel. O tempo passa, eles não são mais crianças, Afeganistão Monárquico já não existe, e as coisas pioram. As pessoas fogem, viram refugiadas. Vários elos se perdem. Toda essa dor se acumula.

Já em A Cidade do Sol (A Thousand Splendid Suns) por suas duas personagens, Mariam e Laila, Khaled mostra um flash da vida da maioria das mulheres afegãs. Casadas com Rashid, elas sofrem todo tipo de coisa, e somente juntas conseguem enfrentar a situação. Pena que é tão difícil ter um final feliz para histórias dessas na vida real. Mariam era harami (bastarda) e pobre, e foi vendida pelo próprio pai que sempre foi ausente em sua infância. Odiava Rashid, e odiou ainda mais quando ele resolveu se casar com Laila também. Laila era jovem, muito bonita, e tinha uma vida ótima toda programada. Sua família era mais progressista, então ela foi alfabetizada. Laila tinha até mesmo um homem que amava. Quando um míssil explode sua casa (ah, a guerra!), ela se torna órfã. Rashid, como o cara bondoso ao extremo que ele é, cuida de Laila só para que ela seja obrigada a se casar com ele. A Cidade do Sol tem sacrifício, tem amizade, tem injustiça... Tem pessoas de carne e o osso.


3- The Khaled Hosseini Foundation

"Meu sucesso como escritor abriu muitas portas para mim, e uma das coisas que são mais gratificantes, é ter a oportunidade de realizar o que eu acredito. A fundação que criei com a minha esposa é um exemplo disso. Ela é feita para as pessoas sobre as quais eu venho escrevendo. Quer dizer, elas estão nos meus livros, estão nas páginas em que eu retratei seu sofrimento, seus infortúnios, seus triunfos, suas histórias, e suas almas. Mas são pessoas reais que deram vida para as histórias. Então, eu senti que seria justo e adequado, que eu deveria fazer algo para o bem delas." — Khaled Hosseini speaks about his foundation 

A fundação ajuda refugiados afegãos (principalmente mulheres e crianças) com assistência humanitária, abrigo, educação, e cuidados médicos. Isso é realizado com doações e com a venda de produtos manufaturados. Os artesanatos são lindos, feitos pelas próprias mulheres da fundação — bolsas, pulseiras, e até marcadores de livros que parecem tapetinhos! ❤

Melhor ainda do que um bom escritor que conta histórias silenciadas, é um bom escritor que se preocupa em melhorar a vida das pessoas dessas histórias. 

Comentários

  1. Nossa! Que legal! Além de ser um ótimo escritor, é um ótimo ser humano. Muito legal a maneira como você defende o escritor. Realmente, estamos muito presos aos esteriótipos e precisamos quebrar essas barreiras!

    http://www.borboletra.com/

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